

Registros do Lançamento
(No dia 28 de novembro/2015, no Auditório do Centro Odontomédico Henri Dunant, Salvador/BA)








Ilustrações do livro
Bordados do artista visual Davi Bernardo
“O que é ser eu mesmo sem esses acidentes de percurso? Será que, antes de eu nascer, já era eu mesmo? Será que Deus, ao permitir ao casal o ato criador, coloca na semente fecundada – no zigoto – alguém? Chegamos ao mundo com um espírito pronto ou nos fazemos ao longo do

O livro nasceu da proposta feita aos seus alunos e ex-alunos que partilhassem suas histórias, experiências, desordens, angústias e transtornos. Como o romance anterior, esse também é baseado em relatos reais, mas ingressa na ficção como forma de mergulhar profundamente nas narrativas dos jovens e integrá-las num discurso doloroso, rico e singular de e para adolescentes.
O protagonista Lucas, 17 anos, narra a sua história porque precisa compreender a si mesmo: abandonado pela mãe, descobre a homossexualidade do pai e defronta-se com a própria vida.
Aprende a duras penas a aceitar os limites, as perdas e as frustrações que a condição humana impõe a todos os mortais. Deprimido, inconstante, cheio de dúvidas, medos e fragilidades, o adolescente não sabe quem é, o que quer e como tornar-se sujeito e dono de seu nariz.
O romance aponta perguntas, arrisca respostas, expõe as feridas do mundo nas lentes de um jovem.
Você não pode ser o oceano (Romance, edição independente, 2015)









“Dentro do consultório com Isa, sinto-me seguro. Entretanto, em casa, no colégio, no mundo, o medo da loucura, da culpa, da depressão e o próprio medo do medo levam-me a ficar ainda mais reservado. Como compartilhar com Juliana ou Leal – ou até com o Professor K – sentimentos hostis? A sociedade funciona idealizando os pais. Mães, então, são objetos de adoração. Suas imperfeições devem ser jogadas debaixo do tapete. Mostre-se aos outros apenas que são as sacrificadas pelo instinto materno. Ser mãe é padecer no paraíso e tal e qual. Esquecem-se de que as vítimas, a classe oprimida, são os pequeninos, os infantes, os bebês, as crianças, os adolescentes.”
(Trecho do Romance)
“Por que precisamos ceder a tal pressão? Por que a escola, a sociedade, a família se acham no direito de traçar nosso destino? Por mais que eu rigorosamente não saiba qual direção seguir, quero ter o direito de seguir minha própria direção. Quem tem de escolher a razão, o sentido de minha vida, sou eu. Às vezes, tudo o que eu quero é mostrar meu dedo do meio erguido seguido de um vá se foder. Para todo mundo. Se eu pudesse fugir, colocar a mochila nas costas, deixar a bagagem ruim para trás e pegar uma série de vôos com duração de oito horas daqui para Madri, ou apenas pegar o busu e conhecer o interior do meu país. Deixar o passado para trás: minha mãe; meu avô; minhas tias histéricas; Ester; o colégio; Zé Dias e a turma da pesada. Soterrar meu velho eu a sete palmos do chão e ir a busca de uma primeira grande aventura.”
(Trecho do Romance)
caminho? O Professor K, um dia, nos indagou: a Biologia precede o psíquico? Há, na adolescência, transformações físicas, inegavelmente. Entretanto, o adulto que eu escolher ser será fruto do fato de eu ter convivido com meus pais. E de, um dia, minha mãe ter saído por aquela porta, afirmando que o fazia por ter descoberto o rosto frágil de meu pai. Acho que ser filho de gay é como ser filho de padre. Total incoerência. Mas ser fruto de uma mãe que abandona o filho é o quê?”
(Trecho do Romance)