
A história do mar (2016)
“A solidão me alucina. A enorme cama de casal sem Lazarus; sem um homem. Enormes travesseiros comprados no shopping para uma cabeça sozinha. Quando me canso das atividades frenéticas e me coloco aqui – como Deus colocou no meio do jardim do Éden a árvore do conhecimento – eu me recosto para ler três, quatro livros de uma vez ou para escrever meu diário; esboços de livros; rascunhos de artigos. A solidão é o preço que pago por Lazarus ser um mulherengo drogado e assassino. Não consigo deixar de amá-lo, mesmo sabendo que estou errada. Amar um sujeito que mata: o que é isso? Masoquismo? Afinal, quem eu sou? Ou será que importa mesmo saber quem sou numa situação como essa?”
(Trecho do Romance)
“Especialmente quando me corto. Ou me firo aleatoriamente. Ou me tatuo. Prendo elementos do mundo em mim. Piercings. Brincos. Metais. Cacos de louça. Nunca consigo alcançar um olhar mais sereno sobre mim mesma ou sobre minha vida. Queria ser uma cadela, um animal. Viver programada pela natureza. Um robô autômato. Sem transgressões. Sem necessidade de perdão. Viver o dia a dia com seu dono e seu prato de comida e a água. O banho de sol. A caminha. Queria ser como Belina, minha cachorrinha. Porque, ainda que sofra, e em alguns momentos sofre – porque toda carne viva sofre - , ela não sabe. Ou sabe? O que nós sabemos da consciência dos cachorros?O que nós sabemos de nossa própria inteligência? Nada. Eu não sei nada sobre Laura Adriana Tudo Sales.”
(Trecho do Romance)
Um romance familiar narrado por três mulheres: uma mãe e suas duas filhas. Discutindo a questão de gênero e o feminino, o autor deseja demonstrar até que ponto o machismo e o falocentrismo destroem a vida das mulheres e dos homens.
“O amor, para a mulher, é uma roupa que a veste. Babados. Pregueados. Franzidos. Godês. Crochês. Rendas. O amor é barroco. Porque a mulher é barroca. O amor é a roupa da mulher, mas é também sua pele. O amor vela e revela. Veste e despe. É presente e ausente. A mulher o busca num homem. Num homem específico, que possa ser amante, protetor, provedor e pai. Entretanto, quando o homem ama, torna-se invisível. Ausente. E a mulher não o sente. Não o vê. Não o segura entre os dentes. Porque o homem ama na cama. E a mulher ama no peito, nos seios, no coração palpitando, almejando a plenitude. O homem quer suas entranhas. A mulher, o olhar dele e a presença. O homem quer a vagina da mulher. Mas ela sempre é uma invaginação.”
(Trecho do Romance)